Neste 28 de abril, a meta de levar educação para todos ficou mais distante
Por Redação
Há 21 anos, 164 países, incluindo o Brasil, participaram do Fórum Mundial da Educação, realizado em Dakar, Senegal, onde as nações assinaram a “Declaração de Dakar – Educação Para Todos”, um compromisso de levar educação básica e secundária a todas as crianças e jovens do mundo. O fórum se tornou um marco, que deu origem ao Dia Mundial da Educação, celebrado todo dia 28 de abril.
Neste ano, governos, educadores, estudantes e famílias inteiras encontram mais uma vez empecilhos causados pela pandemia de Covid-19, uma inimiga mortal da educação. Há até quem improvise um banquinho em cima de uma mangueira para alcançar o sinal de internet no celular, necessário para as aulas remotas. Foi o caso de Artur Ribeiro Mesquita, 15 anos, em Alenquer, zona rural do Pará. Mas, a superação de Artur é uma exceção diante da desigualdade no sistema educacional no Brasil, acentuada pela pandemia.
Os relatos de limitações de conexão com a internet, falta de computador ou mesmo de um espaço adequado para estudar em casa são inúmeros e também desafiam os professores, como a Heliomara Ribeiro. De repente ela se viu há quilômetros de distância dos seus alunos do 4º ano A, da escola estadual E.E. Professora Sada Umeizawa, localizada em Mauá, na Região do ABC Paulista. A princípio, Heliomara gravou vídeos explicando o conteúdo para as crianças e o enviou para o grupo da turma no WhatsApp. “Vi que não conseguia passar pelo único canal que nós tínhamos, que era o WhatsApp, porque era pesado. Aí surgiu a ideia de fazer um canal no YouTube”, contou a professora, que hoje tem mais de 6 mil inscritos no canal. São estudantes de todo o Brasil que aprendem e tiram dúvidas com ela. Para assistir à entrevista completa, clique no “play” abaixo:
Apesar dos esforços, muitos jovens continuam sem acesso às aulas. Em janeiro, um estudo lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) concluiu que mais de 5,5 milhões de brasileiros entre 6 e 17 anos ficaram sem atividades escolares em 2020 por causa da pandemia.
Atualmente, o Senado Federal tem o poder de decidir se as escolas devem ou não ser classificadas como “serviços essenciais”. Se o texto do Projeto de Lei (PL) 5595/2020, já aprovado na Câmara dos Deputados, no dia 20 de abril, passar, as escolas ficarão abertas para o ensino presencial mesmo nos momentos mais críticos da pandemia. Vale ressaltar que de acordo com pesquisadores da Rede Escola Pública e Universidade (Repu), a incidência de Covid-19 no estado de São Paulo é maior entre professores, quase o triplo, e o projeto prevê a suspensão de aulas em uma única situação: "se houver critérios técnicos e científicos justificados pelo Poder Executivo quanto às condições sanitárias do Estado ou município", no entanto esses critérios não foram especificados.
O futuro da educação
Uma pesquisa desenvolvida e aplicada entre maio e junho de 2020 questionou 84% dos educadores da rede estadual de educação de São Paulo, ou seja, 19.221 servidores públicos, na época. O resultado sobre o aguardado período de pós-pandemia foi otimista: 7o% dos respondentes afirmaram se sentirem aptos a desempenharem suas funções via educação mediada por tecnologia; cerca de 68% avaliaram se sentirem apoiados pelos processos formativos em curso e cerca de 80% e 68% afirmaram, respectivamente, que sua atuação como docente e a educação em sentido mais amplo vão mudar para melhor no período pós-pandemia.
O estudo “Educação, docência e a COVID-19” foi liderado pelo pesquisador colaborador do programa Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados (IEA), da Universidade de São Paulo (USP), Edson Grandisoli – sob supervisão do professor Pedro Roberto Jacobi, do IEA e do Instituto de Energia e Ambiente, da USP; com colaboração de Silvio Marchini, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, e parceria da Reconectta.